Estava a morte ali, em pé, diante
Sim,diante de mim.como serpente
Que dormisse na estrada e de repente
Se erguesse sob os pés do caminhante.
Era de ver a fúnebre bacante!
Que torvo olhar!que gosto de demente!
E eu disse-lhe" Que buscas,imprudente,
loba faminta,pelo mundo errante?"
- " Não temas,respondeu( e uma ironia
Sinistramente estranha,atroz e calma,
Lhe torceu cruelmente a boca fria).
Eu não busco o teu corpo...Era um troféu
Glorioso de mais...busco a tua alma.
Respondi-lhe: " A minha alma já morreu! "
Antero de Quental " Sonetos"
Thursday, December 21, 2006
Rosa com espinhos
Uma rosa cresce na tua ausência. Não
a posso colher, a essa rosa vermelha que
incendeia a secura dos meus olhos.Limito-me
a vê-la; a rosa do centro,na sua rotação
de sentimentos e hesitações.Embarco
no rumo que ela me indica.Sei
que me conduzirá para o porto dos teus
braços,onde ainda estremecem as marés
do amor.
Mas se a tua ausência me oferece
esta rosa,de que me servem os seus
espinhos?Lambo devagar as suas
feridas,sentindo correr pela minha alma
o sangue fresco da tua voz: a voz que abranda
quando o fogo se apaga; e de cuja
brancura se soltam os ventos que empurram
o desejo;levam-me para
os teus lábios, a quem a rosa
roubou a mais pura cor.
Abraço então o teu corpo de flor,roubando
à rosa o gozo da sua dor.
Nno Júdice " Teoria geral do sentimento"
a posso colher, a essa rosa vermelha que
incendeia a secura dos meus olhos.Limito-me
a vê-la; a rosa do centro,na sua rotação
de sentimentos e hesitações.Embarco
no rumo que ela me indica.Sei
que me conduzirá para o porto dos teus
braços,onde ainda estremecem as marés
do amor.
Mas se a tua ausência me oferece
esta rosa,de que me servem os seus
espinhos?Lambo devagar as suas
feridas,sentindo correr pela minha alma
o sangue fresco da tua voz: a voz que abranda
quando o fogo se apaga; e de cuja
brancura se soltam os ventos que empurram
o desejo;levam-me para
os teus lábios, a quem a rosa
roubou a mais pura cor.
Abraço então o teu corpo de flor,roubando
à rosa o gozo da sua dor.
Nno Júdice " Teoria geral do sentimento"
Friday, November 24, 2006
não pergunto de onde chegas?
porque sei para onde vais.
hoje é a hora exacta em que até o vento
até os pássaros desistem.
e a noite a teus pés é um instante
e um destino.
não te pergunto onde está o teu rosto,
tantas vezes ocluso e pisado sob os ramos,
onde está o teu rosto?
nem te peço que incendeies o teu nome
num nuvem nocturna,
nem te procuro.
és tu que me encontras.
ficas no rio que passa,
nada de um tempo que não existe,
nem correntes,nem pedra,nem musgo.
nem silêncio
José Luís Peixoto "A criança em ruínas"
porque sei para onde vais.
hoje é a hora exacta em que até o vento
até os pássaros desistem.
e a noite a teus pés é um instante
e um destino.
não te pergunto onde está o teu rosto,
tantas vezes ocluso e pisado sob os ramos,
onde está o teu rosto?
nem te peço que incendeies o teu nome
num nuvem nocturna,
nem te procuro.
és tu que me encontras.
ficas no rio que passa,
nada de um tempo que não existe,
nem correntes,nem pedra,nem musgo.
nem silêncio
José Luís Peixoto "A criança em ruínas"
Sunday, October 15, 2006
Nomeio o mundo
Com medo de o perder nomeio o mundo,
Seus quantos e qualidades,seus objectos,
E assim durmo sonoro no profundo
Poço de astros anónimos e quietos.
Nomeei as coisas e fiquei contente:
Prendi a frase ao texto do universo.
Quem escuta ao meu peito ainda lá sente,
Em cada pausa e pulsação,um verso.
Vitorino Nemésio "Quinze poetas portugueses do séc.XX"
Seus quantos e qualidades,seus objectos,
E assim durmo sonoro no profundo
Poço de astros anónimos e quietos.
Nomeei as coisas e fiquei contente:
Prendi a frase ao texto do universo.
Quem escuta ao meu peito ainda lá sente,
Em cada pausa e pulsação,um verso.
Vitorino Nemésio "Quinze poetas portugueses do séc.XX"
Ulisses
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo-
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este,que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida,metade
De nada,morre.
Fernando Pessoa"Quinze poetas portugueses do séc.XX"
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo-
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este,que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida,metade
De nada,morre.
Fernando Pessoa"Quinze poetas portugueses do séc.XX"
Sunday, October 01, 2006
Proposta de vida
A coisa mais injusta é a maneira como ela acaba.A nossa existência deveria justamente começar pela morte.
Os primeiros anos seriam passados num lar de terceira idade,até sermos expulsos por sermos novos de mais.
Alguém nos ofercia um relógio de ouro e um Ferrari e íamos pegar no trabalho durante 40 anos,até sermos suficientemente novos para para nos reformarmos.Então desatávamos a experimentar drogas leves;alcóol e muito sexo até ficarmos miúdos.Nessa altura poderíamos começar a brincar todo o dia e gozar o facto de não termos qualquer responsabilidade.
Finalmente,chegados a bebés,voltávamos para o conforto da barriga da mãe,gozávamos um magnífico banho de imersão durante 9 meses e acabávamos com um orgasmo!!
Os primeiros anos seriam passados num lar de terceira idade,até sermos expulsos por sermos novos de mais.
Alguém nos ofercia um relógio de ouro e um Ferrari e íamos pegar no trabalho durante 40 anos,até sermos suficientemente novos para para nos reformarmos.Então desatávamos a experimentar drogas leves;alcóol e muito sexo até ficarmos miúdos.Nessa altura poderíamos começar a brincar todo o dia e gozar o facto de não termos qualquer responsabilidade.
Finalmente,chegados a bebés,voltávamos para o conforto da barriga da mãe,gozávamos um magnífico banho de imersão durante 9 meses e acabávamos com um orgasmo!!
O viandante
Trago notícias de fome
que corre nos campos tristes:
soltou-se a fúria do vento
e tu,miséria,persistes.
Tristes notícias vos dou:
caíram espigas da haste,
foi-se o galope do vento
e tu,miséria,ficaste.
Foi-se a noite,foi-se o dia
fugiu a cor às estrelas:
e,estrela nos campos tristes,
só tu,miséria,nos velas
Carlos de Oliveira "Mãe pobre"
que corre nos campos tristes:
soltou-se a fúria do vento
e tu,miséria,persistes.
Tristes notícias vos dou:
caíram espigas da haste,
foi-se o galope do vento
e tu,miséria,ficaste.
Foi-se a noite,foi-se o dia
fugiu a cor às estrelas:
e,estrela nos campos tristes,
só tu,miséria,nos velas
Carlos de Oliveira "Mãe pobre"
Tuesday, August 29, 2006
Quando acordei,não sabia do mundo senão a derrota.Doía-me o corpo morno sob a roupa amassada,mole e morna.Caminhava em passos desencontrados pelo corredor.Era dia, mas estava perdido no tempo.Não sabia as horas porque estava num instante sem horas,num tempo sem horas,entre as horas.
Olhei para o relógio sem o ver,porque não acreditava que os meus olhos pudessem ver.As cores baças.Os objectos a mudarem de lugar.
A claridade indistinta da escuridão.
José Luís Peixoto " Uma casa na escuridão"
Olhei para o relógio sem o ver,porque não acreditava que os meus olhos pudessem ver.As cores baças.Os objectos a mudarem de lugar.
A claridade indistinta da escuridão.
José Luís Peixoto " Uma casa na escuridão"
Thursday, July 20, 2006
Sunday, July 09, 2006
Arte poética(explicação)
Distingo desejo e amor: como se as duas coisas
não tivessem nada a ver uma com a outra; por
entre as palavras abstractas,os conceitos
difíceis, as citações dos clássicos,os teus olhos
fechavam-se de sono e os teus cabelos ficavam
mais claros,como se os iluminasse
por dentro a luz baça do conhecimento.Para te acordar,
perguntie que relação podia haver entre a vida
e o poema. A dúvida não era possível: com efeito, para
os teóricos, a poesia é pura imitação, e nada
do que está nas palavras tem a ver com a matéria sensível,
com o real, com tudo aquilo que nos rodeia. Mas
a tua resposta foi o contrário do que eles dizem,
como se vida e poesia participassem da mesma
natureza.Devia ter corrigido.São as certezas científicas
que fazem avançar o mundo, e não os erros em
que continuamos a insistir.Sim, dir-te-ia, é
dessa oposição entre a vida e o poema, dessa realidade
absoluta da linguagem, construída contra os nossos
hábitos, os lugares comuns do quotidiano, a
banalidade dos sentimentos, que a essência do estético
se pode afirmar.Mas os teus olhos demonstravam-me
o contrário de tudo isto.Contro o que eu próprio pensava,
cedi à sua lógica.Contr o amor, até as leis da poética
são absurdas.
Nuno Júdice " Obra Poética"
não tivessem nada a ver uma com a outra; por
entre as palavras abstractas,os conceitos
difíceis, as citações dos clássicos,os teus olhos
fechavam-se de sono e os teus cabelos ficavam
mais claros,como se os iluminasse
por dentro a luz baça do conhecimento.Para te acordar,
perguntie que relação podia haver entre a vida
e o poema. A dúvida não era possível: com efeito, para
os teóricos, a poesia é pura imitação, e nada
do que está nas palavras tem a ver com a matéria sensível,
com o real, com tudo aquilo que nos rodeia. Mas
a tua resposta foi o contrário do que eles dizem,
como se vida e poesia participassem da mesma
natureza.Devia ter corrigido.São as certezas científicas
que fazem avançar o mundo, e não os erros em
que continuamos a insistir.Sim, dir-te-ia, é
dessa oposição entre a vida e o poema, dessa realidade
absoluta da linguagem, construída contra os nossos
hábitos, os lugares comuns do quotidiano, a
banalidade dos sentimentos, que a essência do estético
se pode afirmar.Mas os teus olhos demonstravam-me
o contrário de tudo isto.Contro o que eu próprio pensava,
cedi à sua lógica.Contr o amor, até as leis da poética
são absurdas.
Nuno Júdice " Obra Poética"
Sunday, June 18, 2006
Até amanhã
Sei agora como nasceu a alegria, Como nasce o vento entre barcos de papel, Como nasce a água ou o amor Quando a juventude não é uma lágrima. É subitamente um grito, Um grito apertando nos dentes, Galope de cavalo num horizonte Onde o mar é diurno e sem palavras. Falei de tudo quanto amei De coisas que te dou Para que tu as ames comigo: A juventude,o vento e as areias. Eugénio de Andrade |
Sunday, June 11, 2006
Com os mortos
Os que amei,onde estão?idos,dispersos, Arrastados nos giros dos tufões, Levados,como em sonho,entre visões, Na fuga,no ruir dos universos... E eu mesmo,com os pés também imersos Na corrente e à mercê dos turbilhões, Só vejo espuma lívida, em cachões, E entre ela,aqui e ali,vultos submersos... Mas se paro um momento,se consigo Fechar os olhos,sinto-os a meu lado De novo,esses que amei: vivem comigo, Vejo-os,ouço-os e ouvem-me também, Juntos no antigo amor,no amor sagrado, Na comunhão ideal do eterno Bem. Antero de Quental " Sonetos" |
Thursday, June 01, 2006
Para um dia mundial da criança
As crianças são o tempo a haver.
Sua primeira presença no mundo é de gritos e protesto. Mas,
às vezes, adaptam-se e isso implica uma luta quase heróica
e anónima que a maior parte ignora.
Alimenta os dias dos homens, mas elas próprias são o espelhoa da solidão.
Em seus olhos enormes e grandes, uma criança contempla o mundo e não o entende.Ouve palavras e as palavras são flechas que lhe perturbam o sonho
em que se refugia para sobreviver.
Tudo nelas é inicial e puro:o riso e a violência, o sonho e as lágrimas.
Projectadas para o alto, são estrelas cadentes.
Voam de encontro ao sol e nele se confundem com as flores e o vento.
Sabem o sentido exacto da fraternidade.E confiam.E esperam.
Olham para a Terrra e descobrem coisas ínfimas, pequenos milagres de harmonia e movimento.
Conhecem a dor e a alegria e reflectem-nas,sem disfraces,
nos gestos e nos olhos.
Não guardam o rancor nem sabem o significado dos termos mais dolorosos.
São assim. E sabemo-lo.
E,no entanto,aos poucos,vamos destruindo o que era
inicial,puro e quase divino;vamos adoptando às nossas mentiras suas verdsdes implacáveis;acomodamos ao nosso agoísmo sua liberdade e seus pensamentos mais claros. A isso,quase sempre,chamamos educação.
Uma criança espera, no mundo.
E que o mundo lhe devolva a esperança para sempre.
Que os Homens,por um segundo em cada dia,suspendam seus deveres mais urgentes e pensem na criança que espera.
E lhe garantam paz.
E lutem pelo seu bem estar.
E se envergonhem de ainda haver,sobre a abundância desnecessária de tantos, a sombra de milhares de crianças que sucumbem de fome e doença sem um vislumbre de ternura ou solução.
Que nós nos envergonhemos.
E que a dor não seja,nunca mais,como a solidão,
uma palavra nos seus dias.
Que a criança sorria ao mundo.
Que o mundo lhe conserve o sorriso.
Hoje. E para sempre.
Maria Rosa Colaço
Sua primeira presença no mundo é de gritos e protesto. Mas,
às vezes, adaptam-se e isso implica uma luta quase heróica
e anónima que a maior parte ignora.
Alimenta os dias dos homens, mas elas próprias são o espelhoa da solidão.
Em seus olhos enormes e grandes, uma criança contempla o mundo e não o entende.Ouve palavras e as palavras são flechas que lhe perturbam o sonho
em que se refugia para sobreviver.
Tudo nelas é inicial e puro:o riso e a violência, o sonho e as lágrimas.
Projectadas para o alto, são estrelas cadentes.
Voam de encontro ao sol e nele se confundem com as flores e o vento.
Sabem o sentido exacto da fraternidade.E confiam.E esperam.
Olham para a Terrra e descobrem coisas ínfimas, pequenos milagres de harmonia e movimento.
Conhecem a dor e a alegria e reflectem-nas,sem disfraces,
nos gestos e nos olhos.
Não guardam o rancor nem sabem o significado dos termos mais dolorosos.
São assim. E sabemo-lo.
E,no entanto,aos poucos,vamos destruindo o que era
inicial,puro e quase divino;vamos adoptando às nossas mentiras suas verdsdes implacáveis;acomodamos ao nosso agoísmo sua liberdade e seus pensamentos mais claros. A isso,quase sempre,chamamos educação.
Uma criança espera, no mundo.
E que o mundo lhe devolva a esperança para sempre.
Que os Homens,por um segundo em cada dia,suspendam seus deveres mais urgentes e pensem na criança que espera.
E lhe garantam paz.
E lutem pelo seu bem estar.
E se envergonhem de ainda haver,sobre a abundância desnecessária de tantos, a sombra de milhares de crianças que sucumbem de fome e doença sem um vislumbre de ternura ou solução.
Que nós nos envergonhemos.
E que a dor não seja,nunca mais,como a solidão,
uma palavra nos seus dias.
Que a criança sorria ao mundo.
Que o mundo lhe conserve o sorriso.
Hoje. E para sempre.
Maria Rosa Colaço
Sunday, May 28, 2006
Lembrança de perder tudo
o teu rosto transformou-se na noite interminável que atravessa cada tarde,cada tarde,cada tarde interminável. o rio de fumo que levava o teu nome para para as estrelas desapareceu dentro de dentro da minha tristeza. e o teu rosto era tudo o que tinha.e o teu nome era tudo o que tinha.tu eras tudo.tudo.e tudo é agora mais do que tudo. José Luís Peixoto " A casa, a escuridão " |
Thursday, May 11, 2006
Wednesday, April 19, 2006
" Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar. Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajecto, quem não muda as marcas no supermercado, não arrisca vestir uma cor nova, não conversa com quem não conhece. Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o 'preto no branco' e os 'pontos nos is' a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluções, coração aos tropeços, sentimentos. Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, a fugir dos conselhos sensatos. Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não tentando um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Evitemos a morte em doses suaves, recordado sempre que estar vivo exige um esforço maior do que o simples acto de respirar. Estejamos vivos, então." Pablo Neruda |
Tuesday, April 18, 2006
Queria ir lá e dizer-lhe : estou aqui.
Mas isso não chega. As palavras não mudam nada.
Há coisas que têm de ser feitas,não apenas ditas.A crueldade das coisas obriga-nos a olhar apenas.Temos medo da nossa própria crueldade, dos nossos erros e de tudo o que foi criado por nós. A incerteza da realidade leva-nos a pensar assim.Somos passageiros na vida, e é triste sabê-lo. A vida não são dois dias ou três...são muitos mais.O que nos faz ficar aterrorizados, não sabemos quando chega o nosso fim.
Talvez amanhã...ou depois.Mas quando chegar escondêmo-nos? Porquê ter medo da morte, se é uma coisa tão natural como viver. A vida tem o seu tempo.Depois somos pó e mais nada para além disso. A vida passa,passamos pela vida e quando isso chega ao fim a morte è o nosso próximo caminho. Mas já não passsa por nós a morte,assim como a vida passa e nem passamos pela morte.Chegámos lá e ficamos somente,talvez ficaremos lá melhor que em certas alturas na vida.É que vida obriga-nos a ter medo da morte.mas não deveria ser assim!
Mas isso não chega. As palavras não mudam nada.
Há coisas que têm de ser feitas,não apenas ditas.A crueldade das coisas obriga-nos a olhar apenas.Temos medo da nossa própria crueldade, dos nossos erros e de tudo o que foi criado por nós. A incerteza da realidade leva-nos a pensar assim.Somos passageiros na vida, e é triste sabê-lo. A vida não são dois dias ou três...são muitos mais.O que nos faz ficar aterrorizados, não sabemos quando chega o nosso fim.
Talvez amanhã...ou depois.Mas quando chegar escondêmo-nos? Porquê ter medo da morte, se é uma coisa tão natural como viver. A vida tem o seu tempo.Depois somos pó e mais nada para além disso. A vida passa,passamos pela vida e quando isso chega ao fim a morte è o nosso próximo caminho. Mas já não passsa por nós a morte,assim como a vida passa e nem passamos pela morte.Chegámos lá e ficamos somente,talvez ficaremos lá melhor que em certas alturas na vida.É que vida obriga-nos a ter medo da morte.mas não deveria ser assim!
Sunday, April 09, 2006
Friday, March 31, 2006
The silence came bursting through the walls that night.No chairs or tables between you and me.Instead of the usual small talk we just stayed there and waited.No movements.My eyes got used to the pale light.It was too amazed to speak. I felt the silence bursting though me.Violently. No warmings.No needs i dosed my eyes 42 seconds and suddenly we knew.There was no fear. Tomorrow was here. Little boy - silence 4 |
Sunday, March 26, 2006
Procuro-te
Procuro a ternura súbita,
Os olhos ou o sol por nascer
Do tamanho do mundo,
O sangue que nenhume espada viu,
O ar onde a respiração é doce,
Um pássaro no bosque
Com a forma de um grito de alegria.
Oh, a carícia da terra,
A juventude suspensa,
A fugida voz da água entre o azul
Do prado e de um corpo estendido.
Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
As coisas mais simples:
O pão e a água,
A cama e a mesa,
Os pequenos e dóceis animais,
Onde também quero que chegue
O meu canto e a manhã de Maio.
Um pássaro e um navio são a mesma coisa
Quando te procuro de rosto cravado na luz.~Eu sei que há diferenças,
Mas não quando se ama,
Não quando apertamos ao peito
Uma flor ávida de orvalho.
Ter só dedos e dentes é muito triste:
Dedos para roer a solidão,
Enquanto o verão pinta de azul o céu
E o mar é devassado pelas estradas.
Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime,procuro-te.
Nas ruas,nos barcos,na cama,
Com amor,com ódio,ao sol, à chuva,
De noite,de dia,triste,alegre..procuro-te
Eugénio de Andrade " As palavras interditas"
Friday, March 03, 2006
Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou.Uma réstia de parte do sol,um campo,...,um bocado de sossego com um bocado de pão,não me pesar muito o conhecer que existo,e não exigir nada dos outros nem exigirem eles nada de mim.Isto mesmo me foi negado,como quem nega a sombra não por falta de boa alma mas por não ter que desabotoar o casaco...
Escrevo,triste,no meu quarto quieto,sozinho como sempre tenho sido,sozinho como serei.E penso se a minha voz,aparentemente tão pouca coisa,não incarna a substância de milhares de vozes,a fome de dizerem se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha no destino quotidiano ao sonho inútil,à esperança sem vestígios.Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele.Vivo mais porque vivo maior.Sinto nao minha pessoa uma força religiosa,uma espécie de oração,uma semelhança de clamour.mas a reacção contra mim desce-me da inteligência...Vejo-me no quarto andar alto da Rua dos Douradores,sinto-me com sono;olho,sobre o papel meio escrito a vida vã sem beleza e o cigarro barato...sobre o mata-borrão velho.Aqui eu,neste quarto andar, a interpelar a vida!a dizer o que as almas sentem! a fazer prosa..
Livro do Desassossego de Bernardo Soares
Escrevo,triste,no meu quarto quieto,sozinho como sempre tenho sido,sozinho como serei.E penso se a minha voz,aparentemente tão pouca coisa,não incarna a substância de milhares de vozes,a fome de dizerem se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha no destino quotidiano ao sonho inútil,à esperança sem vestígios.Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele.Vivo mais porque vivo maior.Sinto nao minha pessoa uma força religiosa,uma espécie de oração,uma semelhança de clamour.mas a reacção contra mim desce-me da inteligência...Vejo-me no quarto andar alto da Rua dos Douradores,sinto-me com sono;olho,sobre o papel meio escrito a vida vã sem beleza e o cigarro barato...sobre o mata-borrão velho.Aqui eu,neste quarto andar, a interpelar a vida!a dizer o que as almas sentem! a fazer prosa..
Livro do Desassossego de Bernardo Soares
Sunday, February 12, 2006
Friday, January 27, 2006
Entre sombras
Vem às vezes sentar-se ao pé de mim
- a noite desce,desfolhando as rosas-
Vem ter comigo,às horas duvidosas,
Uma visão, com asas de cetim...
Pousa de leve a delicada mão
-rescende aroma a noite sossegada-
Pousa a mão compassiva e perfumada
Sobre o meu dolorido coração...
E diz-me essa visão compadecida
-Há suspiros no espaço vaporoso-
Diz-me : porque é que choras silencioso?
Porque é tão erma e triste a tua vida ?
Vem comigo!Embalado nos seus braços
-Na noite funda há um silêncio santo-
Num sonho feito só de luz e encanto
Transporás a dormir esses espaços...
Porque eu habito a região distante
- A noite exala uma doçura infinda-
Onde ainda se crê e se ama ainda,
Onde uma aurora igual brilha constante...
Habito ali e tu virás comigo
- Palpita a noite num clarão que ofusca-
Porque eu venho de longe, em tua busca,
Trazer-te paz e alívio, pobre amigo...
Assim me falta essa visão nocturna
- No vago espaço há vozes dolorosas-
São as suas palavras carinhosas
Água correndo em cristalina urna...
Mas eu escuto-a imóvel, sonolento
- A noite verte um desconsolo imenso-
Sinto nos membros como um chumbo denso,
E mudo e tenebroso o pensamento...
Fito-a num pasmo doloroso absorto
- A noite é erma como campa enorme-
Fito-a com olhos turvos de quem dorme
E respondo : Bem sabes que estou morto!
Antero De Quental " Sonetos"
- a noite desce,desfolhando as rosas-
Vem ter comigo,às horas duvidosas,
Uma visão, com asas de cetim...
Pousa de leve a delicada mão
-rescende aroma a noite sossegada-
Pousa a mão compassiva e perfumada
Sobre o meu dolorido coração...
E diz-me essa visão compadecida
-Há suspiros no espaço vaporoso-
Diz-me : porque é que choras silencioso?
Porque é tão erma e triste a tua vida ?
Vem comigo!Embalado nos seus braços
-Na noite funda há um silêncio santo-
Num sonho feito só de luz e encanto
Transporás a dormir esses espaços...
Porque eu habito a região distante
- A noite exala uma doçura infinda-
Onde ainda se crê e se ama ainda,
Onde uma aurora igual brilha constante...
Habito ali e tu virás comigo
- Palpita a noite num clarão que ofusca-
Porque eu venho de longe, em tua busca,
Trazer-te paz e alívio, pobre amigo...
Assim me falta essa visão nocturna
- No vago espaço há vozes dolorosas-
São as suas palavras carinhosas
Água correndo em cristalina urna...
Mas eu escuto-a imóvel, sonolento
- A noite verte um desconsolo imenso-
Sinto nos membros como um chumbo denso,
E mudo e tenebroso o pensamento...
Fito-a num pasmo doloroso absorto
- A noite é erma como campa enorme-
Fito-a com olhos turvos de quem dorme
E respondo : Bem sabes que estou morto!
Antero De Quental " Sonetos"
Sunday, January 08, 2006
Recordar é viver...
Nem a prepósito me dá vontade de rir quando ouço " recordar é viver"....
Será só isso ?
Temos de deixar as coisas pertencerem ao passado só para vivermos ?
E o presente, e o futuro não existem ?
O presente da agora passará a um passado com as mesmas memórias tristes de uma recordação viva.
Parecemos múmias tristes sem nada para acrescentar à recordação passada.
Assistimos ao nosso suicídio com grande apatia...
Deixamos acontecer as coisas por si só...
Caminhamos a tropeçar na obscuridão do recordar...
E viver será apenas um exercício de memória ?
Alguém me sabe definir o que é viver ?
Quem disse esta frase devia ser um vivo na memória apenas...
E o futuro ?
Não vivemos para atingir o futuro que queremos.....
Uns a fama,outros o dinheiro,outros apenas a vida...e não esquecer aqueles que no futuro vêm a morte( eu pertenço e este grupo).
Não importa as opções de cada um..
Importa é saber se o futuro que está para vir passará a uma recordação ou a uma passagem despercebida de um tempo solitário...
Não podia continuar a ouvir esta frase sem que me ria sem argumentos...
Vale a pena pensar nisto ou não ?
Será só isso ?
Temos de deixar as coisas pertencerem ao passado só para vivermos ?
E o presente, e o futuro não existem ?
O presente da agora passará a um passado com as mesmas memórias tristes de uma recordação viva.
Parecemos múmias tristes sem nada para acrescentar à recordação passada.
Assistimos ao nosso suicídio com grande apatia...
Deixamos acontecer as coisas por si só...
Caminhamos a tropeçar na obscuridão do recordar...
E viver será apenas um exercício de memória ?
Alguém me sabe definir o que é viver ?
Quem disse esta frase devia ser um vivo na memória apenas...
E o futuro ?
Não vivemos para atingir o futuro que queremos.....
Uns a fama,outros o dinheiro,outros apenas a vida...e não esquecer aqueles que no futuro vêm a morte( eu pertenço e este grupo).
Não importa as opções de cada um..
Importa é saber se o futuro que está para vir passará a uma recordação ou a uma passagem despercebida de um tempo solitário...
Não podia continuar a ouvir esta frase sem que me ria sem argumentos...
Vale a pena pensar nisto ou não ?
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