Wednesday, April 19, 2006

" Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajecto, quem não muda as marcas no supermercado, não arrisca vestir uma cor nova, não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o 'preto no branco' e os 'pontos nos is' a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluções, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, a fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não tentando um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordado sempre que estar vivo exige um esforço maior do que o simples acto de respirar.

Estejamos vivos, então."


Pablo Neruda

4 comments:

Amaral said...

Pablo Neruda no seu melhor!
Não conhecia este teu outro refúgio, Indie...

Mac Adame said...

Sábias palavras, as de Neruda.

mitro said...

G'anda texto!

s. said...

excelente poema :)