Friday, March 31, 2006

The silence came bursting through the walls that night.No chairs or tables between you and me.Instead of the usual small talk we just stayed there and waited.No movements.My eyes got used to the pale light.It was too amazed to speak.
I felt the silence bursting though me.Violently.
No warmings.No needs i dosed my eyes 42 seconds and suddenly we knew.There was no fear.
Tomorrow was here.

Little boy - silence 4

Sunday, March 26, 2006

Procuro-te

Procuro a ternura súbita,
Os olhos ou o sol por nascer
Do tamanho do mundo,
O sangue que nenhume espada viu,
O ar onde a respiração é doce,
Um pássaro no bosque
Com a forma de um grito de alegria.

Oh, a carícia da terra,
A juventude suspensa,
A fugida voz da água entre o azul
Do prado e de um corpo estendido.
Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
As coisas mais simples:
O pão e a água,
A cama e a mesa,
Os pequenos e dóceis animais,
Onde também quero que chegue
O meu canto e a manhã de Maio.

Um pássaro e um navio são a mesma coisa
Quando te procuro de rosto cravado na luz.~Eu sei que há diferenças,
Mas não quando se ama,
Não quando apertamos ao peito
Uma flor ávida de orvalho.

Ter só dedos e dentes é muito triste:
Dedos para roer a solidão,
Enquanto o verão pinta de azul o céu
E o mar é devassado pelas estradas.

Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime,procuro-te.
Nas ruas,nos barcos,na cama,
Com amor,com ódio,ao sol, à chuva,
De noite,de dia,triste,alegre..procuro-te

Eugénio de Andrade " As palavras interditas"

Friday, March 03, 2006

Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou.Uma réstia de parte do sol,um campo,...,um bocado de sossego com um bocado de pão,não me pesar muito o conhecer que existo,e não exigir nada dos outros nem exigirem eles nada de mim.Isto mesmo me foi negado,como quem nega a sombra não por falta de boa alma mas por não ter que desabotoar o casaco...

Escrevo,triste,no meu quarto quieto,sozinho como sempre tenho sido,sozinho como serei.E penso se a minha voz,aparentemente tão pouca coisa,não incarna a substância de milhares de vozes,a fome de dizerem se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha no destino quotidiano ao sonho inútil,à esperança sem vestígios.Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele.Vivo mais porque vivo maior.Sinto nao minha pessoa uma força religiosa,uma espécie de oração,uma semelhança de clamour.mas a reacção contra mim desce-me da inteligência...Vejo-me no quarto andar alto da Rua dos Douradores,sinto-me com sono;olho,sobre o papel meio escrito a vida vã sem beleza e o cigarro barato...sobre o mata-borrão velho.Aqui eu,neste quarto andar, a interpelar a vida!a dizer o que as almas sentem! a fazer prosa..

Livro do Desassossego de Bernardo Soares