Procuro a ternura súbita,
Os olhos ou o sol por nascer
Do tamanho do mundo,
O sangue que nenhume espada viu,
O ar onde a respiração é doce,
Um pássaro no bosque
Com a forma de um grito de alegria.
Oh, a carícia da terra,
A juventude suspensa,
A fugida voz da água entre o azul
Do prado e de um corpo estendido.
Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
As coisas mais simples:
O pão e a água,
A cama e a mesa,
Os pequenos e dóceis animais,
Onde também quero que chegue
O meu canto e a manhã de Maio.
Um pássaro e um navio são a mesma coisa
Quando te procuro de rosto cravado na luz.~Eu sei que há diferenças,
Mas não quando se ama,
Não quando apertamos ao peito
Uma flor ávida de orvalho.
Ter só dedos e dentes é muito triste:
Dedos para roer a solidão,
Enquanto o verão pinta de azul o céu
E o mar é devassado pelas estradas.
Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime,procuro-te.
Nas ruas,nos barcos,na cama,
Com amor,com ódio,ao sol, à chuva,
De noite,de dia,triste,alegre..procuro-te
Eugénio de Andrade " As palavras interditas"
Sunday, March 26, 2006
Procuro-te
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