As crianças são o tempo a haver.
Sua primeira presença no mundo é de gritos e protesto. Mas,
às vezes, adaptam-se e isso implica uma luta quase heróica
e anónima que a maior parte ignora.
Alimenta os dias dos homens, mas elas próprias são o espelhoa da solidão.
Em seus olhos enormes e grandes, uma criança contempla o mundo e não o entende.Ouve palavras e as palavras são flechas que lhe perturbam o sonho
em que se refugia para sobreviver.
Tudo nelas é inicial e puro:o riso e a violência, o sonho e as lágrimas.
Projectadas para o alto, são estrelas cadentes.
Voam de encontro ao sol e nele se confundem com as flores e o vento.
Sabem o sentido exacto da fraternidade.E confiam.E esperam.
Olham para a Terrra e descobrem coisas ínfimas, pequenos milagres de harmonia e movimento.
Conhecem a dor e a alegria e reflectem-nas,sem disfraces,
nos gestos e nos olhos.
Não guardam o rancor nem sabem o significado dos termos mais dolorosos.
São assim. E sabemo-lo.
E,no entanto,aos poucos,vamos destruindo o que era
inicial,puro e quase divino;vamos adoptando às nossas mentiras suas verdsdes implacáveis;acomodamos ao nosso agoísmo sua liberdade e seus pensamentos mais claros. A isso,quase sempre,chamamos educação.
Uma criança espera, no mundo.
E que o mundo lhe devolva a esperança para sempre.
Que os Homens,por um segundo em cada dia,suspendam seus deveres mais urgentes e pensem na criança que espera.
E lhe garantam paz.
E lutem pelo seu bem estar.
E se envergonhem de ainda haver,sobre a abundância desnecessária de tantos, a sombra de milhares de crianças que sucumbem de fome e doença sem um vislumbre de ternura ou solução.
Que nós nos envergonhemos.
E que a dor não seja,nunca mais,como a solidão,
uma palavra nos seus dias.
Que a criança sorria ao mundo.
Que o mundo lhe conserve o sorriso.
Hoje. E para sempre.
Maria Rosa Colaço
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