Sunday, November 25, 2007

Noctícula

Quando cair
Na altura da queda de todos os dias,
Da altura da queda de todos os dias,
Esticarei o braço curvado em raiz,
Corrupto nas pontas que me servem de olhos na queda,
De dedos de tremer, de amparo que rasga,
Para quando chegar ao chão
Se disperse o nada de mim e infecte o tudo dos outros.

Quando cair
Na altura da queda de todos os dias,
Da altura da queda de todos os dias,
Vou agarrar uma partícula da noite.
E consegui-la apertar na mão em garra doente.
Apertar até fechar com os dedos por fora do que está dentro
E levá-la comigo, secretamente.
Na garra bem fechada, na mão de eclipse que contém eclipse.
Vou levá-la para entrar nela sempre que quiser.
Para entrar nela e me esconder de ti
Mesmo sabendo que tu me vês.
Em qualquer noite em que eu esteja
.


Fernando Ribeiro " As feridas essenciais"

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