Estou olhando para as coisas mas sem as querer ver
Porque quero ver além do olhar espontâneo e imediato
Em que cada coisa se projecta
Sem tempo para suspender ou para dela desviar os olhos
Mas o que há para ver além das coisas?
Toda a evasão implica um retorno às coisas
Estamos implicados nas infindáveis relações
Dos objectos e não conseguimos ser simples ou elementares
Uma retórica incessante domina a nossa mente
É óbvio que não há nada para ver além das coisas
Mas há o desejo de ver não sabemos o quê
Os valores vivos não estão além das coisas
E não estão também nas coisas
Mas entre o silêncio e as palavras
Entre o silêncio das coisas e o silêncio do nosso olhar
Escrever é tentar ser a voz silenciosa
Desse infindável silêncio que é luz e espaço e nada é
Senão luz e espaço lenta vacuidade de um instante puro
António Ramos Rosa " Deambulações Oblíquas"
No comments:
Post a Comment