Anjo, cuja face escura
me surge velada de ternura,
por que pousas a tua asa tão pura
na pedra húmida, fria e dura?
Porque não me dás a tua mão
para que eu a beije, entre os dedos,
procurando que a emoção
me revele os teus segredos?
Ajuda-me a ouvir, no vento
o eco de um antigo lamento:
murmúrio que o amado deixa
no túmulo que do silêncio se queixa;
e empresta-me a verde imaginação
da jovem pálida e sublime
cantando, numa sonora floração,
esse amor que a matéria oprime.
Nuno Júdice " Obra Poética"
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