Saturday, December 10, 2005

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos-
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos-
Por isso precisamos velar
Falar baixo. pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor

Uma prece por quem se vai-
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixam graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a perticipação da poeisa
Para ver a face da morte-
De repente nuca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente

Vinicius de Moraes " Operário em construção"

1 comment:

Unknown said...

estvamos nos tempos...em que os poemas ainda falavam e consomiam duvidas por ai.