Thursday, December 21, 2006

Anima mea

Estava a morte ali, em pé, diante
Sim,diante de mim.como serpente
Que dormisse na estrada e de repente
Se erguesse sob os pés do caminhante.

Era de ver a fúnebre bacante!
Que torvo olhar!que gosto de demente!
E eu disse-lhe" Que buscas,imprudente,
loba faminta,pelo mundo errante?"

- " Não temas,respondeu( e uma ironia
Sinistramente estranha,atroz e calma,
Lhe torceu cruelmente a boca fria).

Eu não busco o teu corpo...Era um troféu
Glorioso de mais...busco a tua alma.
Respondi-lhe: " A minha alma já morreu! "

Antero de Quental " Sonetos"

Rosa com espinhos

Uma rosa cresce na tua ausência. Não
a posso colher, a essa rosa vermelha que
incendeia a secura dos meus olhos.Limito-me
a vê-la; a rosa do centro,na sua rotação
de sentimentos e hesitações.Embarco
no rumo que ela me indica.Sei
que me conduzirá para o porto dos teus
braços,onde ainda estremecem as marés
do amor.

Mas se a tua ausência me oferece
esta rosa,de que me servem os seus
espinhos?Lambo devagar as suas
feridas,sentindo correr pela minha alma
o sangue fresco da tua voz: a voz que abranda
quando o fogo se apaga; e de cuja
brancura se soltam os ventos que empurram
o desejo;levam-me para
os teus lábios, a quem a rosa
roubou a mais pura cor.

Abraço então o teu corpo de flor,roubando
à rosa o gozo da sua dor.

Nno Júdice " Teoria geral do sentimento"
Só muito lentamente e muito tarde é que o homem se apercebe
de que a liberdade ou é universal ou é
apenas a extensão de um previlégio

Christopher Hill