Fardado de neve vens inspeccionar as gavetas do meu corpo.
Vens experimentar o desgosto da minha perfeita arrumação,
Das coisas perto da carne, das coisas junto do coração.
Escolhido ao acaso, vens ao trabalho de tudo abrir e remexer
A ver se não falta nada ou sobra algo.
Fardado de neve, sob a luz amarelada,
Morta de vermes e de perspectivas de vítima,
Vens me dizer quanto me resta da vida que vale a pena ser vivida.
Vens experimentar o desgosto da minha perfeita arrumação,
Das coisas perto da carne, das coisas junto do coração.
Escolhido ao acaso, vens ao trabalho de tudo abrir e remexer
A ver se não falta nada ou sobra algo.
Fardado de neve, sob a luz amarelada,
Morta de vermes e de perspectivas de vítima,
Vens me dizer quanto me resta da vida que vale a pena ser vivida.
Fernando Ribeiro " As feridas essenciais"