Nunca me tinha apaixonado verdadeiramente. A partir dos dezasseis anos (...), senti algo por todas. Quando lhes lia no rosto um olhar diferente, demorado, deixava-me impressionar e, durante algumas semanas, achava que estava apaixonado (...). Mas depois, o tempo.
Sempre o tempo como uma brisa, uma aragem suave, mas definitiva, a empurrar-me os sentimentos, a deixá-los lá ao fundo e a mostrar-me na distância que eram pequenos, muito pequenos e sem valor. E sempre só a solidão. Sempre. Sozinho, a viver. Sozinho, a ver coisas que não iam repetir-se; sozinho a ver a vida gastar-se na erosão da minha memória. Sozinho, com pena de mim próprio, ridículo, mas a sofrer mesmo. Nunca me tinha apaixonado verdadeiramente. Muitas vezes disse amo-te, mas arrependi-me sempre.
Arrependi-me sempre das palavras.
José Luís Peixoto "Uma casa na escuridão"
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